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set 28, 2021 468 0 DIÁCONO JIM MCFADDEN
ENVOLVA-SE

OUVINDO NO SILÊNCIO

O escritor espiritual e poeta John O’Donohue escreveu uma vez: “Quando você ouve com sua alma, você entra no ritmo e na unidade com a música do universo” (Anam Cara – Sabedoria Espiritual do Mundo Céltico).

Por uma geração, o povo escolhido conheceu apenas o silêncio de Deus. No livro de Samuel, lemos que a Palavra do Senhor aparentemente não era manifestada: “uma revelação do Senhor era incomum” (1 Samuel 3: 1). O povo falou, elogiou, implorou, fez petições e lamentou – e nada ouviu. Até que, uma noite, uma voz assustou Samuel.

Samuel acha que é Eli, o sumo sacerdote de Siló, que talvez precisa de ajuda. Mas Eli manda o menino de volta para a cama. Depois que Samuel ouve a voz pela segunda vez, Eli começa a perguntar-se se esta pode ser a noite em que o Senhor quebra Seu silêncio e retorna a Israel com uma palavra de orientação. “Se Ele te chamar de novo”, Eli diz a Samuel, “dirás: ‘Fala, Senhor, porque o teu servo está ouvindo” (1 Samuel 3: 9).

O correspondente da CBS e apresentador do 60 Minute, Dan Rather, certa vez perguntou a Santa Madre Teresa de Calcutá sobre sua vida devocional. “O que é que você diz a Deus quando reza?” Ela respondeu: “Eu não digo nada; Eu apenas escuto.”Possivelmente um pouco perplexo, Dan Rather continuou: “O que é que Deus diz a você durante a oração?” Madre Teresa pensou por um momento e disse: “(Deus) não diz nada. (Deus) apenas ouve. ” Teresa e Deus – sentados juntos, em silêncio, e ouvindo em silêncio.

Podemos ainda ficar em silêncio? Ficamos inquietos nos perguntando se Deus está lá, se Ele está prestando atenção, se Ele realmente se importa? Em uma carta ao seu diretor espiritual, Teresa confessou suas dúvidas sobre a presença de Deus: “Em minha alma, sinto aquela terrível dor da perda … de Deus não ser Deus.” Ela acrescentou: “Se eu tornar-me uma santa, certamente serei uma das ‘trevas’.”

Às vezes, a oração é paciência na escuridão da noite, procurando por uma voz. Mas a questão é: estamos dispostos a ouvir a maneira que Samuel garantiu ao Senhor que estava pronto para escutar? “Ouvir” significa que direcionamos nossos corações a Deus, confiando que o movimento sutil de Seu Espírito fará o resto.

A oração não é algo que possamos forçar. Se sentimos um movimento para repousar na presença de Deus, esse empurrão vem de Deus, que sempre toma a iniciativa. Nossa parte em responder ao convite de Deus é criar um espaço sagrado, minimizar as distrações e permanecer alerta à presença de Deus. A oração é um presente de Deus para nós e se formos a seu encontro, Ele sempre nos pegará de surpresa, que é, afinal, o que os presentes supostamente fazem.

Como podemos abrir-nos para a presença de Deus? Fazemos o que Samuel fez: ouvimos. Pedimos a graça de ouvir com toda a atenção. Podemos começar pela lectio divina, a leitura sagrada da Escritura, que pode levar a uma profunda experiência de escuta. Depois de meditar sobre a passagem, buscando compreensão e aplicando-a em nossas vidas, temos uma conversa sobre o que lemos. Então, repousamos em silêncio, contentando-nos em permanecer na presença de Deus, sem palavras ou imagens.

Para muitos de nós, a quietude não vem naturalmente, especialmente em nosso mundo 5G supercarregado e frenético, onde saltamos de uma distração para outra. O teólogo jesuíta Karl Rahner disse certa vez: “Todos nós fomos feitos para ser místicos; se não nos tornarmos um, iremos nos destruir. ” A oração eventualmente move-se em direção à quietude, uma qualidade modelada por nossa Mãe Santíssima que continuamente ponderou sobre o que ela experimentou como mãe do Messias. O silêncio nos leva ao estado interior de nossos corações, onde podemos experimentar nossos verdadeiros sentimentos e discernir de onde eles vêm. É precisamente nessa profundidade do nosso interior que Deus fala conosco, revelando nossos desejos e medos mais íntimos, nos convidando a alcançar a comunhão e a fraternidade enquanto entregamos nossos medos e mágoas.

Ouvir a Deus requer entrega. Para fazer isso, devemos primeiro tirar o foco de nós mesmos e então fazer de Deus o centro de nossas vidas. Não tentando controlar é o começo de ouvir a Deus. Mas a entrega envolve riscos, porque Deus vai assumir o controle de nossas vidas e sugerir novas maneiras de vivermos. Quando colocamos Deus no comando, estamos fazendo um ato de fé que declara que a Palavra de Deus é verdadeira, que Ele cumpre Suas promessas e que é confiável. Estamos dizendo que confiamos que Deus unir-se-á em nosso silêncio e nos encherá com Seu Espírito.

Com Samuel, vamos estender o convite: “Fala, Senhor, pois o teu servo está ouvindo.” Mas quando Deus falar, esteja pronto para responder da maneira que Maria instruiu os atendentes a responderem nas Bodas de Caná: “Faça tudo o que Ele lhe disser”. Esse é o risco, esse é o custo, essa é a aventura da jornada interior para o mistério de Deus.

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DIÁCONO JIM MCFADDEN

DIÁCONO JIM MCFADDEN ministra na Igreja Católica de São João Batista em Folsom, Califórnia. Ele é professor de teologia e atua na formação da fé de adultos, preparação para o batismo, direção espiritual e ministério na prisão.

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